Este blog é dedicado ao bom rock feito nas décadas de 1960 e 1970 do século XX. Ocasionalmente também podem ser abordadas bandas e eventos de outras décadas.
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
LOVE (1966): O PRIMEIRO ÁLBUM
Mal-educados ou não, os músicos do Love viram o seu álbum de estréia alcançar números impressionantes de venda quando foi lançado em maio de 1966, vendendo 150.000 cópias e passando quatro meses na lista dos mais vendidos, eventualmente alcançando a posição de número 57. Love (o álbum) incluía o single “My Little Red Book”, que alcançou o posto 52 na parada de sucessos nacional em junho (mas que alcançou vendas mais expressivas no oeste e no sul dos Estados Unidos). Para as sessões de gravação do álbum, Lee tocou bateria na maior parte do tempo e tocou baixo algumas vezes, e, no resto, ele substituiu os problemáticos Conka e Fleckenstein por Ken Forssi no baixo (que fez parte dos Surfaris numa formação pós-“Wipe Out”) e Alban “Snoopy” Pfisterer nas baquetas (Fleckenstein, posteriormente, integraria os Standells e, vários anos depois, construiria uma boa reputação como profissional de cinematografia).
A textura global das geralmente simples canções com base no folk rock contidas nesse primeiro álbum do Love é definida pelas linhas de baixo conduzidas por Forssi e pelo insistente tamborim de Lee. Desde os acordes iniciais de “My Little Red Book” adiante, o álbum tem um foco e uma pegada dramáticos. A versão original de “My Little Red Book” (composição de Burt Bacharach e Hal David) foi gravada pela banda Manfred Mann (Lee era um grande fã do vocalista do Manfred Mann, Paul Jones) e é inteiramente diferente, com uma inclinação mais jazzística, feita para ser parte da trilha sonora do filme What’s New, Pussycat?. Ao invés de construir uma versão fiel aos complexos arranjos do Manfred Mann (que Arthur viu, ouviu e apreciou muito no filme), ele simplificou a estrutura dos acordes da canção, ao mesmo tempo em que acentuou o ritmo envolvente. “Eu não tocava guitarra muito bem naquele tempo”, relembra Lee, “então, eu fiz uma coisa mais ‘rock’ com o tamborim” (Bacharach foi imediatamente incensado quando ele ouviu o tratamento que o Love deu à sua composição). Lee também faz considerações acerca do seu vocal nessa canção: “Eu estava ouvindo uma canção que já tinha ouvido numa outra noite – aquela canção, ‘Talk Talk’, da Music Machine. Meu, aquele cara realmente tentou me copiar. Justamente com essa canção, justamente com esse estilo de cantar. Eu nunca mais cantei daquele jeito. De fato, eu nunca havia cantado daquele jeito, sabe? Foi uma única vez. As pessoas já devem ter notado isso, eu acho. Eu só estava brincando quando eu usei aquela voz...”.
Somando-se à vitalidade da performance de Lee está a camada de sua harmonia vocal. Os dois primeiros álbuns do Love foram gravados em quatro canais – a banda gravou ao vivo e Lee gravou posteriormente o seu vocal principal por cima da base pré-gravada. Para conseguir uma harmonia vocal, como lembrou Holzman, eles levantariam e apagariam a cabeça na máquina do tape, e Lee cantaria a sua parte uma segunda vez. Se funcionasse, maravilha; Se ficasse confuso, o tape iria para o lixo. “Arthur sabia exatamente o que ele estava fazendo”, diz Holzman, lembrando que o Love nunca reeditava o seu material. “Quando algumas partes ficavam ruins, Arthur sempre arranjava um jeito de consertar aquilo”. Botnick relembra: “A banda atravessava a porta pronta para gravar. Eles tocavam no estúdio da mesma forma que tocavam ao vivo em suas apresentações nos clubes”.
Sobre um dos destaques do álbum, a faixa “Can’t Explain”, Lee explica: “Ouça ‘What A Shame’, dos Rolling Stones. É um estilo diferente de música, mas as palavras são quase idênticas. John Fleckenstein e eu compusemos juntos num estilo folk rock”. Johnny Echols também assina a composição.
A resolutamente triste “A Message To Pretty” apresenta a voz cheia de vibrato de Lee até ele cair em si no final da canção: “And I don’t need you to help me find my way” (“E eu não preciso de você para me ajudar a encontrar meu caminho”). O instrumental de “My Flash On You” poderia ser facilmente comparado com o de “Hey Joe” – os dois rocks dividem a mesma progressão básica de acordes. Mas “Flash” é a declaração de propósito de Lee: “All I want in this world is to say I’m a man that’s free” (“Tudo o que eu quero neste mundo é dizer que eu sou um homem que é livre”) e “’Cause I don’t wanna be like them, all I want is to be myself” (“Porque eu não quero ser como eles, tudo o que eu quero é ser eu mesmo”). O folk rock “Softly To Me” (composição de Maclean no estilo da Broadway) oferece uma centelha de conto de fadas conforme Bryan canta sobre “orange, sugar, chocolate and cinnamon” (“laranja, açúcar, chocolate e canela”). Sua incursão no sentimentalismo é notavelmente diferente da incursão de Lee: Maclean está sorrindo e cantando para a garota ao seu lado; Lee está no topo de uma montanha, sozinho, gritando em direção à casa de sua ex-amante, que é exatamente o tipo de narrativa que Lee mostra na marcante “No Matter What You Do”. O lado A do disco encerra com uma composição de Lee e Echols, a emocionante “Emotions”, que dura exatamente um minuto e cinqüenta e cinco segundos.
O lado B começa com “You’ll Be Following”, que é a história da busca de Arthur Lee pela verdade. Nessa busca, ele viaja (para Bagdá, para a Flórida, para o Laurel Canyon de Los Angeles) e procura os colegas Echols e Conka em busca de propósito, um tema recorrente em sua obra. “Começou como sendo um tema sobre Deus, como se eu tivesse feito isso e aquilo, como se eu tivesse procurado o Johnny Echols, como se eu tivesse perguntado ao Don Conka, mas não interessa, eu estarei seguindo Deus”, diz Lee.
“Gazing” é uma composição de Lee com dois minutos e quarenta segundos de duração e que dá lugar a um dos destaques do álbum. Para agradar aos inúmeros fãs dos Byrds que lotavam os primeiros shows do início da carreira do Love para ver Bryan Maclean mostrando o seu talento de músico, o grupo trabalhou uma velha favorita dos Byrds em suas apresentações para Bryan cantar: “Hey Joe”. “Bryan era roadie dos Byrds e nós escolhemos essa canção porque também fazia parte do repertorio dos Byrds”, diz Lee. Mas nem os Byrds e nem o Love receberam os créditos por terem sido os pioneiros na gravação de “Hey Joe”. Uma banda punk de folk rock de Los Angeles chamada The Leaves roubou os arranjos de ambas as bandas e gravou rapidamente a faixa, lançando-a como um single antes que qualquer outra banda pudesse gravar essa canção de autoria de Billy Roberts, que sempre é erroneamente creditada a Dino Valenti. É Lee quem relembra: “Os Leaves pediram a Johnny Echols a letra desta canção. Echols deu a letra toda errada para a banda. Mesmo assim, a versão dos Leaves foi campeã de vendas em Los Angeles”. Mesmo tendo sido sucesso estrondoso com os Leaves, “Hey Joe” só ganharia a sua versão definitiva no ano seguinte, nas mãos da Jimi Hendrix Experience.
O único número acústico do álbum é “Signed D. C.”, que também é uma das melhores canções antidrogas daquela época – ou de qualquer época. Lee acaba com a presunção de muitos fãs do Love que acham que a canção é um aviso aberto direcionado a Don Conka, alertando-o sobre o seu vício em heroína, com a letra sob forma de carta de suicídio: “Essa canção é sobre as pessoas que eu via quando eu descia do palco após os shows – os drogados que estavam contra o muro e não conseguiam descruzar os seus braços. Essa canção não foi escrita apenas sobre uma única pessoa. Muitas pessoas estavam fazendo o que está escrito na letra desta canção. D. C. significa Distrito de Columbia. Ouça ‘St. James Infirmary’ e ‘The House Of The Rising Sun’. Eu construí a linha melódica desta canção a partir dessas outras duas”. Mesmo tendo sido considerado pelos fãs do Love como um irrecuperável viciado em drogas, Don Conka sobreviveu aos excessos cometidos durante os anos 1960 e se tornou um especialista em extintores de incêndio (e se deu bem na vida profissional fora da música). Nos anos 1990, Conka chegou a se apresentar com Arthur Lee no Club Lingerie, em Los Angeles, em uma surpreendente versão ao vivo de “Signed D. C.”, mostrando que o talento de Conka como baterista havia permanecido intacto.
O primeiro álbum do Love se encerra com “Colored Balls Falling”, “Mushroom Clouds” e “And More” (as duas primeiras são composições de Arthur Lee e a última, uma parceria de Lee com Maclean), três petardos do melhor rock de garagem dos anos 1960.
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